Recado importante: esse texto expressa uma opinião pessoal, ou seja, não é um aconselhamento profissional e você não precisa concordar comigo! Boa leitura 🙂
Para quem sai da faculdade de nutrição em busca de realizar atendimentos em consultório, esse caminho pode ser mais longo e com percalços peculiares. A prática da experiência clínica não aprendemos na faculdade, e pessoalmente, ainda menos sobre manejo terapêutico. Em momentos de orientação nutricional essa habilidade se torna essencial.
Falar sobre os sinais de fome, saciedade e a percepção desses pode ser desafiador na prática. Esse é um tópico mais abordado em condutas focadas no comportamento alimentar, mas pode ser aplicada por todos os nutricionistas em diversos quadros clínicos. A questão é: como essa orientação pode ser realizada?
O consumo alimentar é orientado e regulado por fatores homeostáticos, hedônicos e cognitivos, os quais interagem entre si.
A prescrição nutricional vai de encontro com as necessidades fisiológicas do paciente, como a necessidade energética total (NET), ou a quantidade de proteína por quilo de peso dependendo do objetivo atual, por exemplo.
Porém, nem sempre a percepção dos níveis de fome e saciedade são abordadas, mas esse é um tópico essencial para que o paciente entenda melhor sobre os seus limites e tenha mais autonomia alimentar.
A fome pode ser explicada a partir de uma gradação, cada um irá percebê-la de forma diferente, mas alguns sinais são comuns para a maioria das pessoas:
- fisiológicos: boca amargar, barriga roncar, dor de cabeça, irritação;
- cognitivos: pensamentos voltados para a comida, memórias alimentares;
- sensoriais: olfato aguçado, aumento da salivação, alterações neuroendócrinas diante da presença do alimento.
O que chamamos, comumente, de saciedade pode ter diferentes significados para quem escuta, por isso, é importante diferenciar alguns termos técnicos:
- saciação: associada a distensão estomacal devido o consumo alimentar;
- saciedade: associada a liberação de leptina e absorção de nutrientes;
- satisfação: associada com a liberação de dopamina, sensibilidade à recompensa, desejo de comer, nível inicial de fome e reconhecimento dos aspectos sensoriais da refeição.
Por isso, quando o paciente se diz “satisfeito” com certa refeição, do que exatamente ele está falando? É importante que o nutricionista tenha esse olhar (ou melhor, escuta), podendo então realizar melhores prescrições, e orientações nutricionais!
Deixo como sugestão, para consulta e estudos, alguns artigos que falam sobre os aspectos metabólicos e neuroendócrinos da fome e saciedade:
Sobre a fome, saciedade e sistema de recompensa (Front. Endocrinol., 2017)
Neurobiologia e consumo alimentar na saúde e doença (Nature Reviews, 2014)
Mecanismos fisiológicos do prazer em comer (Flavour, 2015)
Até mais!