O leite materno garante a nutrição adequada e ainda protege contra diarreias, infecções respiratórias e alergias. Ajuda também a diminuir o risco do desenvolvimento de hipertensão, colesterol elevado, diabetes e até obesidade; além de fortalecer muito o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê.
Por conta de todos esses fatores positivos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que o bebê seja amamentado exclusivamente até os seis meses de vida. Depois disso, a amamentação pode continuar até os dois anos ou mais, junto com a alimentação complementar (1,2).
Contudo, condições pessoais, clínicas e socioculturais podem interferir na manutenção do aleitamento materno. Entre os obstáculos mais recorrentes, destacam-se: aconselhamento insuficiente por parte das equipes de saúde, estigma e desinformação, falta de suporte do parceiro ou família, retorno da mãe ao trabalho (3).
No Brasil, segundo o último levantamento de 2019, 45,8 % dos bebês menores de seis meses recebiam aleitamento materno exclusivo — média próxima da meta proposta para 2025 de 50%, mas bem abaixo de 70 %, meta para 2030. Quase a totalidade das crianças brasileiras foi amamentada alguma vez e metade mamou por pelo menos 15,9 meses (4).
Os nutricionistas, como educadores em saúde, desempenham papel essencial desde o pré-natal. No atendimento à gestantes, algumas ações são fundamentais, como: conhecer a história materna e familiar, antecipar possíveis dificuldades, orientar sobre o processo da amamentação e estimular práticas que favoreçam o vínculo mãe-bebê.
Cuidados nutricionais importantes para lactantes:
- Para a estimativa energética recomendada usar duas fórmulas, a depender do período da lactação (5):
- Primeiro semestre: EER de não grávidas + 500 kcal/dia.
- Após o primeiro semestre: EER de não grávidas + 400 kcal/dia.
- Durante a lactação, recomenda-se o adicional calórico de 500 kcal para o ganho de peso gestacional adequado e 700 kcal para ganho de peso insuficiente. Em caso de gestação gemelar, considerar adicionais por bebê (5).
- Para o cálculo de macro e micronutrientes, considerar (5):
- Proteínas: 1,1g/kg/dia ou acréscimo de 19 g/dia nos 6 primeiros meses e 12,5 g/dia nos meses subsequentes.
- Lipídios: 20 a 35% do VET.
- Carboidratos: 45 a 65% do VET.
- Fibras: Ingestão adequada de 29 g/dia.
- Micronutrientes: Avaliar a necessidade de suplementação de vitaminas e minerais, principalmente ferro, cálcio e ácido fólico.
- A recomendação sobre a perda de peso após o parto é diferenciada de acordo com o estado nutricional da nutriz, e não deve ultrapassar a perda ponderal segura para a lactação. Dietas rigorosas, durante esse período, podem reduzir a produção e a concentração de nutrientes no leite materno (6).

- Mulheres que amamentam não precisam fazer nenhum tipo de restrição alimentar. Não há evidência de que os alimentos interferiam na amamentação. Também não se recomenda restrição de leite, ovos ou amendoim. No entanto, caso ocorra algum efeito no lactente associado a certos componentes da dieta, retirar o alimento da dieta por algum tempo e reintroduzi-lo, observando atentamente a reação da criança (7).
- Não consumir peixes ricos em mercúrio: o consumo elevado de mercúrio pode representar risco ao desenvolvimento neurológico do bebê. Peixes ricos em mercúrio são os predadores, como peixe espada e cavala. Peixes com índices menores de mercúrio, podem ser consumidos 2 vezes por semana: anchova, bacalhau, pescada, arenque, salmão, sardinha, tilápia, truta, atum, peixe branco (7).
- Limitar o consumo de café e outros produtos derivados até no máximo 300 mg de cafeína por dia (cerca de 3 xícaras de café). Com consumos acima dessa quantidade, algumas crianças podem apresentar irritação ou ter dificuldade para dormir (7).
Confira algumas orientações sobre educação em amamentação:
Antes de iniciar a mamada:
- Higienizar bem as mãos, antebraços e unhas. Manter as unhas curtas para evitar machucar o bebê;
- Se houver ingurgitamento, fazer massagem ou ordenha manual antes da mamada para facilitar a pega;
- Passar um pouco do próprio leite na região mamilo-areolar, antes de oferecer a mama ao lactente.
Durante a mamada:
- Apresentar a mama em formato de “C” para facilitar a pega;
- Estimular o reflexo de busca tocando o mamilo nos lábios do bebê;
- Garantir um ambiente calmo, respeitando o tempo do bebê, que pode pausar a sucção para descansar;
- Caso a pausa se prolongue, estimular suavemente o bebê tocando suas orelhas ou pés;
- Verificar constantemente a posição do bebê: ele deve estar alinhado, barriga com barriga, rosto voltado para a mama, sem torções no pescoço, com o queixo encostando na mama.
Cinco sinais de boa posição:
- O bebê se aconchega ao peito da mãe;
- A barriga do bebê toca o corpo da mãe;
- O rosto está voltado para a mama;
- Cabeça e coluna alinhadas;
- Cabeça apoiada no braço da mãe.
Outras recomendações importantes:
- Esvaziar uma mama antes de oferecer a outra, garantindo a oferta tanto o leite anterior quanto o posterior;
- Se possível, evitar bicos artificiais, pois podem causar confusão em alguns bebês;
- Orientar sobre posições específicas em casos de dificuldade:
- Invertida: útil quando há dor, fissuras, mastite ou ingurgitamento;
- Cavaleiro: recomendada para prematuros, bebês com refluxo, fenda palatina, obstrução nasal, entre outros.
Materiais complementares:
- Guia Alimentar para Crianças Menores de Dois Anos (versão profissional): página 21 até a 61 https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/Documentos/pdf/guia-alimentar-para-criancas-brasileiras-menores-de-2-anos.pdf/view
- Documentos Cientificos da Sociedade Brasileira de Pediatria: https://www.sbp.com.br/documentos/categoria_publicao/aleitamento-materno/
- Cursos e e-books, da ProMatre, com linguagem mais acessível: https://promatre.com.br/guia-de-saude/biblioteca-da-maternidade/
É a educação contínua, iniciada no pré-natal e mantida no puerpério, que favorece o sucesso do aleitamento materno. Quando a amamentação se concretiza, surgem dúvidas, inseguranças e desafios que precisam ser acompanhados de perto.
Com escuta ativa, empatia e conhecimento técnico, o nutricionista pode contribuir significativamente para a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Caso não seja a sua área de especialidade, procure profissionais para indicar e realizar parcerias profissionais!
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