A forma com que muitas condições de saúde são encaradas e vividas pode influenciar na adesão do indivíduo ao tratamento, assim como nos desfechos clínicos (1). Esse conceito, ou seja, como encaramos a própria realidade, pode ser chamado de representação social (common sense model).
É importante ressaltar que tal representação pode ser determinada por diversos fatores:
- como o quadro clínico foi apresentado ao paciente;
- história clínica familiar e de conhecidos;
- a forma que a sociedade em que ele está inserido encara tal quadro clínico;
- e como a doença pode afetar as interações sociais do indivíduo.
Durante a etapa de anamnese há muito espaço para perguntas diretas, mas pouco para escutar a história de alguém. Quando o paciente conta sobre as suas queixas e dores, nunca é apenas sobre a sua doença, e sim sobre a sua vida, alterada pela doença. A forma com que ele fala de si, da sua saúde e motivação para mudar hábitos é muito importante para a conduta do nutricionista.
É a partir da representação da própria doença que o paciente pode, ou não, tomar atitudes que visam a sua saúde (2). Precisamos entender o entendimento deles sobre o que está acontecendo, pois isso tem grande impacto no tratamento.
Por exemplo, uma visão extremamente negativa do prognóstico pode ser desmotivante para persistir em mudanças. Já uma visão positiva e realista pode fazer com que o paciente coopere com o profissional e tenha melhor adesão ao tratamento.
Em um estudo, focado em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2, o modelo de intervenção terapêutica foi avaliado e associado à adesão do paciente ao tratamento. Quanto mais pressionados esses se sentiam por orientações rígidas, menos eles:
- relataram o consumo alimentar real;
- aderiram ao plano alimentar proposto;
- apresentaram autocontrole associado à alimentação.
Uma conduta terapêutica mais acolhedora, além de compreensível às demandas de saúde e sociais do paciente, promove melhor aderência ao tratamento, e consequentemente, maiores chances de resultados positivos serem colhidos (3).
O nutricionista enfrenta diversas barreiras no manejo nutricional de doenças crônicas, como a educação alimentar, desconstrução de desinformações, e incentivar uma constante auto observação por parte do paciente. Para isso, a adesão ao tratamento e às orientações é essencial!
Deixo também um artigo de sugestão para leitura, sobre como as normas do senso comum e o ambiente social podem impactar nas escolhas alimentares: https://doi.org/10.1016/j.appet.2014.10.021
Até mais!