Os distúrbios cardiometabólicos são responsáveis por grande parte da taxa de morbimortalidade entre as mulheres brasileiras. São eles: obesidade e síndrome metabólica, diabetes mellitus tipo 2, doença hepática esteatótica metabólica (DHEM) e doença renal crônica (com destaque para a doença renal diabética). Sabia que há diferenças importantes entre homens e mulheres que apresentam as mesmas condições clínicas?

Além disso, condições como síndrome dos ovários policísticos, ganho excessivo de peso na gestação, complicações hipertensivas e menopausa precoce adicionam camadas de complexidade ao risco cardiometabólico feminino. Reconhecer os impactos dessas condições é essencial para a prevenção, rastreamento e intervenções nutricionais. Confira como cada fase de vida da mulher gera marcas no risco cardiometabólico!
1. Cardiometabolismo no período infanto-juvenil:
A puberdade e a adolescência constituem fases sensíveis para a programação metabólica. Alterações no timing puberal, como uma menarca precoce ou tardia, estão associadas com maior risco futuro de obesidade, dislipidemia, diabetes e eventos cardiovasculares.
Irregularidades menstruais persistentes durante a adolescência devem ser consideradas sinais de alerta, pois podem refletir resistência à insulina e predisposição para síndromes endócrinas, como a SOP, por exemplo. Por isso, a importância de uma avaliação clínica abrangente que inclua histórico menstrual, biomarcadores inflamatórios, HOMA-IR, perfil lipídico e composição corporal.
A relação com transtornos alimentares nessa fase é bidirecional: o excesso de peso eleva o risco de bulimia e compulsão alimentar, enquanto esses quadros favorecem ganho adicional de peso, intensificando as repercussões cardiometabólicas.

2. Risco cardiometabólico e idade reprodutiva:
Condições inflamatórias crônicas, como a endometriose e psoríase, também elevam o risco cardiovascular. Essas condições, geralmente, estão associadas à alterações de biomarcadores inflamatórios, hipertensão arterial, ocorrência de doença coronariana e acidente vascular cerebral (AVC).
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um dos principais marcadores de risco cardiometabólico na idade reprodutiva. Essa condição está associada com obesidade central, resistência à insulina, dislipidemia aterogênica, apneia do sono, aterosclerose precoce, maior prevalência de depressão e doença hepática esteatótica metabólica.
A infertilidade e seus tratamentos também influenciam o risco cardiometabólico no futuro. Técnicas de estimulação ovariana podem aumentar a ocorrência de tromboembolismo, pré-eclâmpsia e outras complicações metabólicas, com repercussões que podem se prolongar por anos.
Há adaptações fisiológicas na gestação, como a resistência insulínica, alterações inflamatórias e dislipidemia gestacional, que ampliam o risco materno e fetal, o qual se estende ao pós-parto se houver manutenção do perfil lipídico alterado. Já a lactação, quando acontece, exerce um efeito protetor para a saúde da mulher.

3. Impactos da transição menopausal, menopausa e pós-menopausa:
A queda progressiva do estradiol amplifica adiposidade abdominal, aumenta a resistência à insulina e favorece a elevação do colesterol LDL, triglicerídeos e pressão arterial. Assim, com a chegada da menopausa há maior predisposição para aterosclerose, DM2 e disfunção endotelial.
Mulheres com menopausa precoce (40–45 anos), ou insuficiência ovariana prematura (<40 anos), apresentam risco ainda maior para eventos cardiovasculares, incluindo doença isquêmica do coração e AVC antes dos 60 anos. A literatura demonstra associação consistente entre menopausa precoce e mortalidade cardiovascular.
A terapia hormonal da menopausa tem papel limitado nesse cenário e não deve ser utilizada para prevenção primária ou secundária para distúrbios cardiometabólicos. A implantação de testosterona, ou combinações hormonais sem evidências, também não são recomendadas devido ao risco desconhecido de efeitos cardiovasculares e oncológicos.

Intervenções nutricionais práticas:
A nutrição ocupa lugar central na prevenção e manejo dos distúrbios cardiometabólicos ao longo da vida da mulher. Protocolos focados em reduzir carboidratos simples e gorduras saturadas, aumentar o consumo de fibras e adotar padrões alimentares como dieta mediterrânea demonstram eficácia na melhora da glicemia, do perfil lipídico e da resistência à insulina.
O posicionamento reforça a importância de estratégias individualizadas, respeitando a cultura alimentar, preferências regionais e condições socioeconômicas. O acompanhamento no longo prazo aumenta a adesão no tratamento e garante resultados clínicos mais duradouros.
O posicionamento deixa claro que a intervenção nutricional é muito importante. Seguir um padrão alimentar saudável, de forma consistente, auxilia na perda de peso ponderal, melhora os biomarcadores inflamatórios e colabora para a prevenção de doenças cardiovasculares.
Leia o resumo anterior sobre o tema: https://blog.allivici.com/index.php/2025/11/18/posicionamento-saude-cardiometabolica-ao-longo-do-ciclo-de-vida-da-mulher/
Confira o documento na íntegra: https://abccardiol.org/article/posicionamento-sobre-a-saude-cardiometabolica-ao-longo-do-ciclo-de-vida-da-mulher-2025/
Até mais!
