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Artigo Científico: Efeito de intervenção nutricional nos sintomas psicológicos da síndrome pré-menstrual

A síndrome pré-menstrual (SPM) afeta quase metade (48%) da população mundial feminina em idade reprodutiva. Já a Síndrome disfórica pré-menstrual (SDPM), acomete até 8% das mulheres, apresentando sintomas emocionais mais intensos e recorrentes. Esses distúrbios podem ocasionar prejuízos à qualidade de vida, ao desempenho no trabalho ou nos estudos, além de custos indiretos significativos.

Os tratamentos convencionais envolvem anticoncepcionais hormonais, por vezes combinados com antidepressivos, para amenizar sintomas emocionais, principalmente inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Muitas abordagens também envolvem ansiolíticos, diuréticos e analgésicos.

Contudo, muitos desses tratamentos apresentam efeitos adversos ou resposta limitada em algumas mulheres, o que tem motivado a busca por alternativas complementares e menos invasivas. Assim, estratégias como mudanças no estilo de vida, prática regular de atividade física e manejo do estresse vêm sendo cada vez mais incorporadas aos protocolos de tratamento.

Da mesma forma, há crescente interesse em intervenções nutricionais como parte do tratamento. Porém, ainda existem lacunas no meio científico sobre o efeito de alimentos ou suplementos para os sintomas psicológicos da SPM (humor deprimido, irritabilidade, ansiedade ou alterações comportamentais).

Por isso, o estudo em questão teve como objetivo conduzir uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados para avaliar os efeitos de intervenções nutricionais nos sintomas psicológicos da SPM em mulheres em idade reprodutiva.

Metodologia

Foram realizadas buscas em cinco bases de dados, por ensaios clínicos randomizados (ECRs) em inglês publicados desde 2022, com análise de intervenções nutricionais em mulheres em idade fértil para mensuração de desfechos psicológicos associados à SPM. A triagem, extração de dados e avaliação de risco de viés foram conduzidas por três revisores independentes, utilizando o instrumento Cochrane Risk of Bias 2.

Resultados e Discussão

A busca resultou em 32 artigos, envolvendo 3.254 participantes com idades entre 15 e 50 anos. As intervenções que apresentaram efeitos consistentes e positivos sobre os sintomas psicológicos da SPM foram: suplementação com vitamina B6 (≥ 50 mg/dia), cálcio (≥ 1000 mg/dia) e zinco (≥ 30 mg/dia).

Por outro lado, as evidências foram insuficientes ou inconsistentes para vitamina B1, vitamina D, carboidratos integrais, isoflavonas de soja, ácidos graxos alimentares, magnésio, multivitamínicos ou dietas específicas para SPM. É importante destacar que apenas um estudo foi classificado com baixo risco de viés.

Oscilações hormonais no ciclo menstrual interagem com neurotransmissores e impactam em mecanismos de estresse oxidativo e inflamação, o que pode exacerbar sintomas emocionais na SPM. A suplementação de cálcio e zinco pode auxiliar via modulação de neurotransmissores e redução de estresse oxidativo, enquanto a vitamina B6 exerce papel como cofator na síntese de GABA, com potenciais efeitos ansiolíticos.

Contudo, algumas limitações precisam ser indicadas: a heterogeneidade entre os estudos (principalmente de dose e duração dos estudos), há muitas publicações com risco de viés elevado, além da impossibilidade de realizar uma meta-análise combinada devido à variabilidade metodológica.

Conclusão

Este trabalho reforça que existem evidências de que nutrientes podem melhorar os sintomas psicológicos associados à SPM em mulheres em idade reprodutiva, com destaque para vitamina B6, cálcio e zinco.

Esses achados estão alinhados com hipóteses anteriores, que relacionavam micronutrientes ao humor e bem-estar nessa fase do ciclo menstrual.

Contudo, ainda não é possível emitir recomendações conclusivas para a prática clínica. São necessários mais ensaios de alta qualidade, com protocolos padronizados e melhor avaliação dos níveis basais dos nutrientes.

Confira o artigo na íntegra: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38684926/

Até mais!

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