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Artigo Científico: Biomarcadores nas Doenças Inflamatórias Intestinais

Doença Inflamatória Intestinal (DII) é um termo que abrange duas condições clínicas: Colite ulcerativa (UC) e Doença de Crohn (DC). Ambas se caracterizam por causar inflamação intestinal e apresentam sintomas semelhantes: dor abdominal, diarreia e sangramento nas fezes. 

Acredita-se que a doença atinge indivíduos predispostos geneticamente, que por algum gatilho ambiental iniciam uma resposta imune e desenvolvem uma inflamação crônica. 

O diagnóstico padrão-ouro é via colonoscopia, mas por ser um procedimento caro e invasivo, com riscos associados para o paciente, nem sempre é a primeira opção utilizada para o diagnóstico. A avaliação por biomarcadores é uma alternativa.

O estudo em questão abordou sobre os atuais biomarcadores na DII e quais são as orientações práticas para cada um, visando orientar profissionais da saúde. Além disso, trouxe as promessas de novos biomarcadores que estão em estudo na medicina!

Confira mais detalhes:

Biomarcadores são proteínas detectáveis em fluidos corporais (sangue, fezes e urina) que fornecem informações sobre a atividade de uma doença. 

Atualmente, na DII, é realizada a dosagem e avaliação da proteína C reativa (PCR) em soro e da calprotectina fecal (FCP) em fezes. Inclusive, a PCR e a FCP são utilizadas para diferenciar DII da síndrome do intestino irritável (SII). 

1. Proteína C Reativa (PCR) 

Segundo a Organização Europeia de Crohn e Colite (ECCO), pacientes com PCR significativamente elevada (> 30 mg/L), em associação com diarreia sanguinolenta e frequência de evacuações > 6 vezes/dia necessitam de admissão para tratamento intensivo. 

A correlação com PCR é mais forte para Doença de Crohn. 

  • Apesar de ser uma alternativa de fácil acesso e baixo custo, a PCR é limitada como biomarcador pela falta de especificidade, já que pode estar aumentada em diversas patologias infecciosas e inflamatórias; 
  • No entanto, pode exercer um papel importante no monitoramento da doença, sendo um fator indicativo de quadros agudos e complicações, como perfurações ou abscessos intestinais; 
  • PCR aumentada de forma persistente também pode ser um indicador da necessidade de modificar a conduta terapêutica adotada.

2. Calprotectina fecal (FCP) 

É o primeiro biomarcador de fezes capaz de discriminar entre doenças gastrointestinais inflamatórias e não inflamatórias. Em indivíduos saudáveis o intervalo de FCP está entre 10 e 50 μg/g. O consenso da DII recomenda um FCP alvo de <150 μg/g como meta de tratamento. 

A avaliação de FCP mais sensível para Colite Ulcerativa.  

  • Como biomarcador não apresenta tanta especificidade, já que está associado com o número de neutrófilos presentes no lúmen intestinal e pode indicar gastroenterite infecciosa, enterocolite, ou diverticulite; 
  • No entanto, apresenta importante utilidade na exclusão de outras condições clínicas, como para diferenciar SII e DII; 
  • Já demonstrou superioridade sobre a PCR na previsão da atividade endoscópica e é cada vez mais usado em pacientes em remissão clínica para prever recidiva da doença e monitorar a resposta à terapia na doença ativa. 

3. Teste imunoquímico Fecal (FIT)

Avalia as concentrações de hemoglobina fecal e é amplamente utilizado em ambientes de cuidados primários para prever o risco de câncer colorretal e a necessidade de encaminhamento para o exame endoscópico; além de detectar com sensibilidade a inflamação da mucosa e a perda de sangue oculto no lúmen intestinal. 

É um teste mais barato do que FCP, que também carece de especificidade, além de não ser tão sensível para detecção de Doença de Crohn, principalmente no intestino delgado. 

4. Novos biomarcadores 

Existe uma estimativa de mais de 10 anos desde a descoberta de um biomarcador até o seu uso na prática clínica. Alguns exemplos de biomarcadores que estão em fase inicial de descoberta e estudos: 

  • Oncostatin M;
  • Glycome profile
  • Alfa 2-glicoproteína rica em leucina; 
  • Mieloperoxidase fecal; 
  • MicroRNAs fecal (miR-223 and miR-1246); 
  • Anticorpos (Anti Integrin αvβ6) ; 
  • Dipeptidil-peptidase (DPP-4). 

Também estão surgindo novas formas de medir os biomarcadores já utilizados: 

  • Dispositivo capaz de medir PCR pelo suor; 
  • Avaliação de FCP usando a técnica de ELISA; 
  • Aplicativo de smartphone que escaneia amostra fecal e calcula concentração de FCP; 
  • Coleta de muco colônico para avaliação de FCP; 
  • Biomarcadores urinários para substituir a coleta de fezes. 

Conclusão 

Atualmente há uso de PCR e FCP na prática clínica. Qualquer biomarcador tem pontos fortes e limitações individuais, por isso o seu uso requer uma interpretação cuidadosa. 

Com o crescimento de estudos na metabolómica, genómica e proteómica o número de biomarcadores aumentou nos últimos anos, mas nem todos apresentam boa sensibilidade ou são acessíveis.

É esperado que futuros biomarcadores demonstrem o risco de desenvolvimento da doença e a identificação de indivíduos assintomáticos. 

Provavelmente a inteligência artificial exercerá um importante papel na na integração de resultados genéticos, transcriptómicos, proteómicos e metabolómicos. 

Mais estudos são necessários especialmente para DC do intestino delgado, pois não é uma região facilmente acessível por endoscopia, dificultando o diagnóstico final. 

Confira o artigo na íntegra: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/38737913/ 

Até mais!

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